Pioneira na olivicultura, Fazenda Rainha comemora sucesso do Azeite Orfeu no mercado
Durante muitos anos, o Brasil foi visto como uma terra sem futuro para a produção de azeitonas e azeites. Mas, aos poucos, pioneiros como a Fazenda Rainha, em São Sebastião da Grama (SP), mostram que podemos, sim, atingir o Olimpo na produção desse óleo que é tão apreciado nas mesas de todo mundo.
A aposta, em encontrar uma nova cultura para plantar entre as áreas dos cafezais da tradicional fazenda, hoje é uma realidade que já rendeu prêmios internacionais como medalhas de ouro no concurso italiano EVO International Olive Conquest. Em entrevista, o engenheiro agrônomo da Fazenda Rainha, Alexandre Marchetti, conta sobre essa história de sucesso, dedicação e amor:
1 – No seu entendimento por quê o azeite Orfeu recebeu duas medalhas de ouro no concurso italiano EVO International Olive Conquest para as variedades picual e arbosana, ambas de origem espanhola? Qual é o segredo de ser reconhecido em um mercado tão exigente?
Alexandre Marchetti – Além das variedades espanholas, temos outras variedades como a grega koroneike, que também conseguimos medalha de ouro e as premiações de melhor do Hemisfério Sul e da América do Sul. Fomos premiados nos anos de 2018, quando participamos pela primeira vez, e também nos anos de 2020 e 2021. Acredito que o sucesso dos nossos produtos é que produzimos tudo com dedicação, zelo, amor e carinho. Dessa forma, extraímos os melhores azeites para satisfazer o consumidor final.
2 – Apesar de o Brasil não ter tradição em olivicultura, o mercado de azeites nacionais está em crescimento. Terroir? Falar de terroir é falar de um conjunto de fatores como: Topografia; Geologia;
Uma das características que vem fazendo o azeite nacional conseguir destaque fora do país acredito que seja o terroir. O Brasil é um país muito rico. Aqui temos produção de tudo e nos destacamos em todas as culturas que produzimos. Na nossa região, temos um histórico muito bom da qualidade de café, que se destaca em várias premiações importantes. Na oliveira, também conseguimos alta qualidade e quebramos esse paradigma que o Brasil não poderia produzir olveiras e azeites competitivos. As características do nosso terroir permitem que os azeites tenham mais gosto de fruta. E mesmo tendo esse gosto de fruta, eles ainda mantêm o amargo e o picante, que são características dos azeites produzidos fora do país. Mas no Brasil conseguimos manter essas características e ainda incluir um gosto a mais de fruta, que nos leva a ser destaques no mundo no mercado de azeites.
3 – O seu azeite é 100% extravirgem, com acidez abaixo de 0,2%, e as variedades vieram de que países? O fato da extração do azeite ser feita menos de duas horas após a colheita, garantem boas características ao azeite? Por que?
Trabalhamos com variedades espanholas, italianas e gregas. As espanholas são arbosanas, picual e arbequinas. As italianas coratina e grappolo. A grega é a koroneike. Para manter as características do azeite, é preciso fazer a extração do óleo até duas horas após a colheita dos frutos porque existe o risco da oxidação da azeitona. Aqui no Brasil, a colheita ocorre na época do Verão, que é muito quente. Se a gente demorar muito para fazer a extração do óleo, os frutos podem oxidar e estragar. Se isso acontecer, não conseguimos manter as características principais da azeitona. Como a gente faz a extração a frio, tem que correr o mais rápido possível para tentar extrair dos melhores frutos, assim mantemos as características da azeitona.
4 – De quem foi a ideia de plantar oliveiras? Que ano começou o plantio? E a produção?
A ideia de plantar foi do Zé Renato, que é o nosso diretor da fazenda do Grupo Sertãozinho. A Rainha é uma fazenda que tem um histórico da produção de café. Entre essas lavouras de café, tínhamos umas áreas de pasto mais altas que estavam paradas. Não podíamos plantar café porque são áreas que ventam muito e são mais frias. O proprietário pediu para plantarmos uma cultura nesses pastos para diversificar a produção da fazenda. Pensamos em plantar uva ou oliveira. Como a uva já era uma cultura que aqui na região se destacava, e oliveira tinha muito pouco, o Zé Renato teve a ideia de começar a plantar as azeitonas para tentar fazer azeite com características diferentes do que havia no mercado. O primeiro plantio foi no ano de 2009 e a primeira produção foi em 2013.
5 – De lá pra cá a produção cresceu? Quanto? E a área plantada? Quais os produtos vocês oferecem?
Sim, nossa produção cresceu muito. No primeiro ano, tivemos uma colheita de 100 quilos de frutos. Chegamos no ano de 2018, com uma produção de 140 toneladas. A área nossa plantada hoje é de 82 hectares. Temos cerca de 32 mil plantas de oliveiras aqui na Fazenda Rainha. A média produzida nos últimos anos ficou entre 100 toneladas e 140 toneladas. Em 2022, a expectativa é que a produção fique acima de 150 toneladas. Comercialmente, hoje trabalhamos com os seguintes azeites: monovarietal koroneike e monovarietal arbosana. Também produzimos um blend da safra, no qual trabalhamos com três variedades que são picual, coratina e grappolo. Fizemos isso no ano passado trabalhando com esses três produtos. Além deles, neste ano, vamos lançar a arbequina. Serão três monovarietais e um blend.
6 – Desde quando vocês são parceiros da Pieralisi? Que equipamentos você tem da Pieralisi?
A parceria com a Pieralisi teve início em 2013, quando começou a fazer o lagar e a planta de processamento de azeite na Fazenda Rainha. Se eu não me engano, fomos a segunda ou terceira máquina que a Pieralisi montou no Brasil. Nossa planta tem capacidade de 900 quilos por hora de processamento. Temos todos os equipamentos da parte de higienização (lavador, elevador e desfolheador). Temos também a batedeira de capacidade de processar 900 quilos por hora. Há ainda um decanter centrífugo da série Baby e uma centrífuga vertical da Bravo.
Nós gostamos muito da Pieralisi. Desde quando a empresa fez a apresentação para gente da máquina Pieralisi, todos foram muito atenciosos e sempre nos oferecem uma qualidade de prestação de serviço muito boa.
O atendimento é sempre muito bom e gentil. Os profissionais tanto de vendas como os técnicos são muito atenciosos. Eles são ágeis para responder as nossas demandas e estão sempre à disposição quando a gente precisa. Um exemplo é no envio de peças de reposição. A gente entra em contato pedindo a peça e muito rápido o material é enviado.
Só posso dizer que a Pieralisi tem um pessoal de excelência na área técnica e também na parte de vendas.
7 – A qualidade de um azeite de oliva extra virgem não depende apenas do cuidado do olivicultor no campo, mas também e sobretudo do conhecimento e da competência do lagareiro, como também da
qualidade do lagar?
A qualidade do azeite não depende só da qualidade da planta no campo. Você pode ter um fruto bonito, e chegar no dia colheita perfeito, mas se não tiver um lagar de qualidade, processo produtivo de qualidade e ter o conhecimento de como vai fazer esse azeite, corre o risco de perder toda a qualidade que o fruto oferece. É fundamental fazer o processo da forma correta para manter a qualidade que o fruto nos proporciona.
8 – Que legado você gostaria de deixar para o futuro?
Acredito que o legado que eu gostaria de deixar é mostrar que fomos os primeiros produtores que mudaram a história da olivicultura no Brasil. Quando entramos nesse mercado, tudo estava parado e ninguém produzia quase nada. Saber que fomos os precursores que iniciaram a produção de azeite de qualidade, quando o mercado estava parado e ninguém produzia nada, será muito relevante. As árvores são milenares e imagine daqui mais de 100 anos, quando as novas gerações estiverem por aqui, eles saberem que fomos nós os pioneiros em alavancar a olivicultura na nossa região e no país.