Por muitos séculos, a sociedade foi assolada por diversas doenças que, em alguns casos, ceifaram milhões de vidas. Felizmente, com o avanço da ciência e o aumento do conhecimento acerca da importância de cuidados sanitários, o saneamento básico se tornou acessível para boa parte da população mundial.

Ainda que existam, até hoje, muitas pessoas sem acesso a esse benefício, é inegável que essa foi uma grande conquista, responsável por já salvar bilhões de vidas. Apesar disso, o trabalho continua e é fundamental que estejamos sempre bem informados sobre as novas técnicas e estratégias para o tratamento da água.

Pensando nisso, preparamos um artigo especial sobre o tratamento de lodo no saneamento básico. Continue a leitura e tire as suas principais dúvidas sobre um dos processos mais importantes para a garantia da qualidade da água!

O que é lodo?

Em primeiro lugar, que tal relembrarmos ou conhecermos a definição de lodo? Esse é o pontapé inicial para que possamos avançar em nossos estudos sobre o tratamento desses compostos na água. Vamos lá?

Lodo é o nome dado a um tipo de resíduo oriundo de processos industriais, dos processos que ocorrem nas ETA (Estações de Tratamento de Água) e nas ETE (Estações de Tratamento de Esgoto). Ele surge a partir do processos, que faz com que compostos decantem e se acumulem nessa estrutura.

O lodo é, portanto, uma mistura de compostos. Alguns dos pontos de sua composição são areia, argila, coloides e micro-organismos decompositores, o que faz com que o seu tratamento seja muito importante para a qualidade de tratamento do efluente.

O próximo ponto de atenção é a diferenciação entre os conceitos de lodo, lama e sedimentos. Lama é o nome dado ao efluente composto por argila, terra e água. O sedimento, por sua vez, corresponde às partículas sólidas que precipitam ou flutuam nos líquidos, alterando a visibilidade e a profundidade das águas.

Agora, é hora de conhecermos um pouco mais sobre o lodo. Ele pode ser classificado de algumas maneiras diferentes. Vamos conferir as principais a seguir!

Lodo primário

Também é chamado de lodo bruto. Ele é composto principalmente por sedimentos sólidos orgânicos. Ele é o lodo obtido a partir do processamento no decantador primário no processo de tratamento desse material.

Lodo secundário

Esse tipo de lodo é obtido a partir do processamento nos reatores e pode ser classificado entre digerido e séptico.

Lodo biológico

São compostos, em sua grande parte, por matéria orgânica. Ele é bastante utilizado a partir do descarte positivo, sendo encaminhado para usos biológicos como o emprego em fertilizantes e outros.

Lodo físico/químico

É oriundo do tratamento físico ou químico das águas, como o uso de coagulantes para agregar os sólidos e deixar apenas o componente do lodo livre para ser removido. Um bom exemplo de composto que pode ser utilizado nesse processo é o alumínio.

Lodo orgânico

O lodo orgânico é aquele que traz mais substâncias orgânicas em sua composição, como agentes provenientes da decomposição de outros seres vivos.

Logo inorgânico

O inorgânico, por sua vez, é o que tem, em sua composição, uma predominância de substâncias inorgânicas. Alguns exemplos são o nitrogênio, o magnésio, o fósforo e o cálcio.

Há ainda outras classificações, como as de espessamento, estabilização, desidratação e de origem urbana ou industrial. Essa caracterização envolve uma série de processos tecnológicos, como a cromatografia e a análise bacteriológica dos compostos envolvidos e é essencial para que os responsáveis saibam como dar sequência ao processo de tratamento.

Quais são os riscos da presença de lodo na água?

Após conhecermos o que é o lodo, é hora de conferirmos alguns dos riscos biológicos do excesso desse composto nos efluentes. Saiba mais a seguir!

Agregação de poluentes no composto

O lodo é um grande bioacumulador, ou seja, a sua presença faz com que compostos potencialmente nocivos se acumulem em sua superfície. Bons exemplos são os metais pesados, que acabam sendo forte presença na maioria das amostras de lodo coletadas nas Estações de Tratamento.

Ocorrência de doenças infectocontagiosas

Para a vida humana e animal, a água contaminada com lodo é um grande perigo. Afinal, ele também é um poderoso acumulador de micro-organismos que, muitas vezes, são causadores de doenças (patógenos). Algumas enfermidades geradas pela água não-tratada são a cólera, a hepatite A e a giardíase, entre muitas outras.

Desenvolvimento de problemas variados de saúde

Seja pelas doenças mencionadas acima (como a hepatite) ou por outras razões (como o acúmulo de metais pesados), é importante ressaltar que a água não tratada também pode trazer problemas e danos sistêmicos ou a órgãos específicos do corpo. Regiões comumente afetadas são os intestinos, os rins e o fígado.

Quais são os desafios do processo de tratamento do lodo no saneamento básico?

Já deu para perceber que o tratamento do lodo é algo indispensável no saneamento básico, certo? No entanto, há alguns desafios envolvidos nesse processo. É sobre isso que falaremos agora!

Eliminação de agentes causadores de doenças

Como visto anteriormente, um dos grandes problemas do lodo é a sua capacidade de bioacumulação. Eliminar esses compostos potencialmente tóxicos também é um grande desafio, que requer o tratamento cuidadoso e o uso de várias estratégias de reciclagem, como veremos mais à frente.

Busca por maneiras de reutilizar o lodo sem prejudicar o meio ambiente

Por fim, um desafio presente é a busca por maneiras adequadas de descarte ou reuso desse material. Felizmente, há cada vez mais opções, mas ainda assim, boa parte delas requer muito trabalho para a bioestabilização do lodo, liberando-o para o uso seguro e sem trazer prejuízos ao meio ambiente.

Quais são os processos envolvidos no tratamento do lodo?

Chegou a hora de descobrirmos quais são os processos envolvidos no tratamento do lodo no saneamento básico. Para saber quais são eles, basta continuar a leitura!

Digestão anaeróbia

A digestão anaeróbia acontece por meio da decomposição dos compostos orgânicos potencialmente nocivos para os seres humanos. Um dos grandes benefícios dessa estratégia é a geração de biogás, que pode ser aplicado na obtenção de energia sustentável.

O produto dessa reação, além do biogás, é o material de resíduo sólido. Este, por sua vez, também pode ser reaproveitado em processos de compostagem.

Digestão aeróbia

Nesse tipo de tratamento, são utilizados micro-organismos aeróbios para a promoção da digestão. Por isso, não é gerado o biogás, como é observado no exemplo acima.

No entanto, essa técnica traz outras vantagens, como a redução dos agentes poluentes, a diminuição do volume e massa do lodo processado, a redução de odores desagradáveis e a atenuação do potencial de bioacumulação desse produto, fazendo com que ele se torne mais estável e seguro para utilização.

Adensamento

Assim como a digestão aeróbia, o adensamento também tem como característica a redução do volume do lodo tratado. Como o próprio nome já diz, ocorre um aumento da densidade do material.

O processo é feito por um maquinário conhecimento como adensador, que realiza a retirada de água através de uma tela rotativa, deixando-o mais denso e preparado para passar por outras etapas.

Desidratação

O lodo é um material composto por grandes quantidades de água. Isso pode prejudicar a sua mobilidade, tornando-o mais instável, e contribuir para a proliferação de ainda mais micro-organismos em sua composição.

Por isso, é feito o processo de desidratação, que consiste na remoção física da água. É um processo feito em centrífugas. O decanter centrífugo é utilizado para separar fase sólida de líquida, desidratando o sólido e clarificando o líquido.  O líquido a ser clarificado entra na máquina através de um tubo horizontal coaxial ao eixo principal dela, e é jogado para a superfície periférica do tambor pelo efeito da força centrífuga. As duas saídas das fases separadas, torta e líquido clarificado, estão nas extremidades opostas do tambor; a saída dos sólidos na extremidade tronco/cônica e a do líquido clarificado na extremidade cilíndrica. O líquido clarificado sai do tambor através de orifícios circulares abertos em um anel especialmente moldado. O nível do vertedouro é determinado por um anel de regulagem colocado no diâmetro desejado, de maneira tal que determine o nível do líquido dentro do tambor. A escolha do diâmetro do anel de regulagem, e consequentemente, do nível do anel líquido, depende do tipo de produto a ser tratado e dos resultados que se quer alcançar. O produto sólido sai do tambor através de furos radiais na extremidade tronco/cônica do mesmo e é jogado, pela força centrífuga, numa câmara de coleta e direcionada para moega de descarga de sólidos, alimentando a rosca que leva a fase sólida fora da máquina ou caindo numa caçamba em nível inferior.

Secagem

Por fim, temos a secagem, um processo que também foca na redução do índice de água no material, mas de uma maneira mais “natural”.

Nesse tipo de tratamento, o foco está na espera da drenagem e evaporação dos líquidos, seja com a disposição do material em estufa ou nos chamados “leitos de secagem”. Há também a secagem termina, que utiliza grandes fontes de calor para catalisar o processo.

Qual é o destino do lodo removido no processo de saneamento básico?

Em outro momento da nossa conversa, abordamos que um dos desafios envolvidos no tratamento do lodo no saneamento básico é justamente a dificuldade em descartá-lo da maneira possível.

Isso ocorre principalmente por conta do descarte feito em aterros sanitários, o que acaba prejudicando o meio ambiente graças à absorção dos compostos químicos pelo solo. A contaminação dos lençóis freáticos também se dá por conta desse tipo de atitude.

No entanto, há algumas possibilidades de destino para esse resíduo, sendo a boa parte delas extremamente vantajosa para o meio ambiente e até mesmo para a sociedade, com a promoção da abertura de novas vagas de emprego e muito mais. Vamos conhecê-las?

Tratamento de água

Apesar de ser um produto do tratamento da água, o lodo, após tratado, pode voltar a esse processo e ajudar na estabilização de muitas questões envolvendo a qualidade dos recursos hídricos.

Alguns exemplos são a promoção de uma maior sedimentabilidade em águas pouco turvas, fazendo com que os sedimentos se depositem de maneira mais rápida e o controle de sulfeto de hidrogênio na água, um composto altamente prejudicial para os seres humanos e animais.

Compostagem

Em seguida, temos a compostagem, uma estratégia essencial para otimizar os resultados obtidos na plantação de insumos alimentares para a população. O objetivo, aqui, é utilizar os micro-organismos presentes no lodo para catalisar as reações de otimização do solo.

Alguns tipos de lodo precisam passar pelo processo de bioestabilização para serem liberados para o uso na compostagem. Outros, como o lodo sólido, são utilizados direto, sem necessitar de qualquer tratamento extra.

Fabricação de cimento

Essa é uma técnica mais recente e pouco utilizada no Brasil. O processo consiste na reutilização do lodo na fabricação de concretos utilizados, por exemplo, na reestruturação das calçadas quebradas para o acesso à rede de esgoto de onde eles são removidos.

O uso do lodo para esse tipo de produto não traz prejuízos à sua funcionalidade, sendo uma alternativa sustentável e segura. No entanto, é necessário estudar qual será a finalidade do material utilizado, já que os estudos são conduzidos apenas para estruturas que recebem pouca pressão externa.

Cultivo de grama comercial

O lodo de Unidades de Tratamento também pode ser utilizado para a composição de grama comercial, que posteriormente pode ser usada na confecção de tapetes de grama esmeralda.

O lado positivo é que as amostras de tapetes confeccionados estavam com os níveis de metais pesados dentro da segurança estabelecida pelos órgãos responsáveis, ou seja, é uma opção viável de uso desse tipo de material.

Fabricação de outros produtos

Além disso, o lodo oriundo das Estações de Tratamento pode ser direcionado para a fabricação de tijolos e cerâmicas, uma estratégia interessante para movimentar a economia e gerar empregos.

O lodo, aqui, é utilizado após passar pelo processo de desidratação. Os produtos confeccionados são de extrema segurança e podem ser usados sem oferecer qualquer tipo de risco às estruturas com eles construídas.

Utilização na agricultura

Por fim, temos a utilização do lodo na agricultura, como fertilizantes. Esse é um dos usos mais importantes desse material quando o assunto é o desenvolvimento sustentável e a proteção ao meio ambiente.

Por serem ricos em compostos como o nitrogênio, o fósforo, o zinco e outros, é possível utilizar o lodo como substrato para o crescimento das plantas. Ele é muito comumente aplicado na plantação de frutos cítricos, que exigem um grande aporte dos nutrientes mencionados acima.

Como podemos ver, o tratamento do lodo no saneamento básico é um processo bem extenso e cheio de detalhes. Todo esse trabalho é essencial para o bem-estar da população e, claro, para o desenvolvimento econômico das cidades. Por isso, devemos sempre estar atentos às novidades do setor.

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